Juntei as mão paralelas ao rosto em forma de prece, ela
respirou fundo e espalmou a mão no ar em um pedindo que eu a aguardasse.
Deve ter se passado uns 5 minutos no máximo, mas foram os
minutos mais tensos da minha vida.
-Oi!<ouvi a sua voz suave ao longe>
-Cadê você?
-Shiiii!!... Estou aqui na janela da cozinha!
-Na janela?<disse indo ao seu encontro>... Mas por que
a janela, por que não veio ao quintal?<sorri ao ver os seus lindos olhos
através da janela não muito grande>
-E que o meu marido viajou, e eu fiquei trancada!
-Ele viajou e te deixou trancada?
Ela ficou quieta, parecia estar distante, com o olhar triste
e sombrio, daria qualquer coisa para saber o que ela estaria pensando agora.
-Não claro que não!<disse rapidamente depois de alguns
segundos>...E que eu acabei perdendo a chave na rua, esqueci de comentar,
ele acabou saindo e me trancando sem saber!
-Nossa mas que loucura!... Só um minuto, eu vou ligar para um
chaveiro amigo meu, e ele te destranca em minutos!... Ele e o cara, sempre me
destranca quando chego em casa tarde, e perco a chave!<sorri pegando o
celular>
-NÃO!... Não precisa, eu... Eu... E... Já chamei!... É eu já
chamei um chaveiro, ele deve estar chegando, não precisa se incomodar comigo!
-Tudo bem, eu fico aqui com você ate ele chegar!<sorri
para ela>
-Imagina não precisa, não quero te atrapalhar...
-Você não me atrapalha em nada, muito pelo contrario...
-Bruno!... Ei cara cadê você?
-Droga!<balbuciei>
-O que houve?
-O Kenji esta me chamando!<a encarei>
-Nossa você ouve muito bem, eu não ouvi nada!
-Cantor tem que ter um bom ouvido!<sorrimos>... Estou
aqui Kenji!<me distanciei um pouco da janela>
-A sim!... Oi vizinha!
-Oi, tudo bem?<sorriu para ele, nossa aquele sorriso, ele era tão
lindo>
-Nossa e estranho falar assim!<sorriu>... Parece que
estou falando com uma detenta!
-Kenji!<chamei a sua atenção
-Desculpa!... Então, vamos antes que nos atrasemos?... Temos
uma reunião importante hoje, não podemos dar mole com o cara!
-Olha, toma a chave do meu carro, vai na frente que eu vou
ficar...
-Não!... Já disse que não precisa, eu vou ficar bem!
-Esta acontecendo algo?
-Não, esta tudo bem, e o seu amigo que esta preocupado
demais!
-Você tem certeza?<me virei para ela olhando em seus
olhos>
-Tenho sim Bruno!
-Você lembra do meu nome?... E que você disse que não
ouviu...
-Claro que sim!... Jamais esqueceria o nome do homem que me
defendeu, sem nem mesmo me conhecer!
-Faria novamente sem pensar duas vezes!
-Bruno!
-Já vou Kenji!<disse rispidamente e ela sorriu>
-Vai Bruno, não quero que se prejudique em nada por mim!
-Eu vou, mas volto mais tarde para ver se o cara já veio te
retirar daí!
-Não precisa eu...
-Faço questão!... Mais tarde eu volto!<encostei e beijei
os seus dedos que estavam segurando firmemente na janela>... Eu volto!
Olhei para o Kenji que me aguardava com uma cara não muito
boa. Seguimos para o carro, e se antes eu já pensava nela, agora eu tenho
certeza que ela não sairá dos meus pensamentos. Aquele sorriso, aqueles lábios,
aquela voz suave, em um tom baixo que a deixava sexy. Parecia que estava
hipnotizado por ela.
-Acho melhor você parar por aqui!<disse já dentro do
carro>
-Do que você esta falando?<perguntei já sabendo a
resposta>
-Oras Bruno, de você estar obcecado pela Gabriella!... Ela e
casada, e o marido dela não e nada passivo!<sai com o carro>
-Eu sei, e acredite este e o único motivo de eu não ter me
aproximado ainda mais dela!... Eu tenho receio dele acabar agredindo ela
verbalmente por algum motivo, ainda mais se fosse por minha causa!... Ele
parece ser impulsivo demais!
-Sinceramente meu amigo!... Eu acho que ele bate nela!
-Que isso Kenji, claro que não!... Ele parece ser grosseiro,
mas chegar a bater nela, acho um pouco demais!
-Não sei Bruno, já ouvi a sua voz algumas vezes durante a
madrugada, pedindo para que ele parasse com algo!... Mas não entendi muito bem!
-A cara você e homem, vai me dizer que nunca foi um pouco
mais forte com a sua mulher na hora do... Você sabe!<sorrimos>
-Definitivamente você não presta Bruno!
-Estou mentindo?<sorrimos>
Trocamos de assunto enquanto seguíamos para o estúdio,
confesso que a sua suspeita dele bater nela ficou martelando na minha cabeça,
mas eu acho que ele não e tão maluco a este ponto. A Gabriella e uma mulher
linda, as duas únicas vezes que a vi foi impossível não reparar em um mulher
daquelas, se ele fizesse algo parecido com isso a ela, nossa, eu não quero nem
pensar, ele deve ser um idiota.
Mas eu acho que não chega a isso, ele deve tratá-la com o
maior carinho do mundo, afinal parece que ela o ama muito, e o respeita demais,
pois nem vir falar comigo direito ela veio. Bom se ela e feliz com o marido
quem sou eu para ficar me metendo em um relacionamento tão perfeito.
Depois de mais alguns minutos chegamos no estúdio, todo
mundo já estava la nos esperando, menos os produtores da gravadora, sorte a
nossa.
-Kenji!<segurei em seu ombro enquanto seguíamos para a
ilha de edição>
-Não me toca assim por que eu to carente, preciso da minha
mulher de volta!
-Acredite você não faz o meu tipo!<sorrimos>... Eu
prefiro um moreno alto careca... <disse ao ver o Phil passar do nosso lado,
adoro implicar com ele>
-Nem vem estou em greve!<sorrimos>
-Fala cara, já ate sei sobre o que é, ou quem é!
-Ta que bom, me poupa tempo!... Por que você acha que ele
bate nela?
-Já te disse cara, eu ouvi uma vez ela pedindo...
-Ta esta parte eu entendi!... Mas só por isso?
-Olha uma mulher geralmente não vive presa dentro de casa,
ainda mais uma mulher tão bonita quanto ela!... Mas ela vive se escondendo de
todo mundo!
-Como assim se escondendo?
Ele me contou que uma vez estava no quintal cuidando da
piscina, ela apareceu na lavanderia na parte de trás da casa, e quando ele foi
cumprimentá-la, viu que ela estava com um olho roxo, ele perguntou se ela
estava bem, mas ela desconversou dizendo que precisava entrar para fazer o
jantar.
Eu disse que tinha achado estranha a sua atitude de não me
receber normalmente para conversar cara a cara, ao invés de ser pela janela da
cozinha. Eu disse a ele que ela me contou que estava presa por ela ter perdido
a chave de casa, o marido saiu e a deixou trancada sem querer.
-Sinceramente, eu acho que ele a deixou presa de propósito!
-Você acha que ele seria capaz disso?<o encarei cético
cruzando os braços na altura do peito>
-Depois daquele dia da briga, eu acho que ele e capaz de
muito coisa!... Mas também acho que isso não e da sua conta meu amigo, você
deveria deixar esta mulher viver a vida dela!
-Mas e se ele bater nela como você disse?... Eu não posso só
ver!... E nem você deveria...
-E mesmo?... E o que faríamos?... Você chegaria na casa dela
em cima de um cavalo branco para salva-la?... Acorda, ela não e a princesa
trancada no alto do castelo, e você não e um príncipe encantado!<disse e
simplesmente saiu>
Fiquei por uns minutos parado pensando em tudo o que o Kenji
falou, e ele tinha razão, eu não deveria me meter na vida de ninguém,
principalmente dela, se eles estão juntos, e por que se amam, o que eu estou
fazendo? Preciso tirar esta mulher da minha cabeça urgentemente.
* Gaby *
Estava distraída olhando para o tempo, e me lamentando pelo
fato de ter fraquejando mais uma vez, deixado ele me trancar aqui, na realidade
foi o seu beijo, ele me beijou com tanto amor, com tanto sentimento, que me
deixou extremamente confusa, tinha esperança de que ele voltasse a me amar.
Decidi ir para o banheiro tomar um banho e tentar relaxar um
pouco, afinal terei uns dias sem tensão.
Olhei pela janela do banheiro, e vi uma nuvem carregada
vindo de muito longe, eu amava dias chuvosos, eram tão... Lindos, me faziam
bem, me traziam paz.
Me aproximei da
janela me escorando na soleira, em uma fração de segundos olhei para baixo, e
me deparei com ele parado olhando para mim, senti um frio atravessar a minha
espinha, o meu coração acelerou, as minhas mão tremeram, na realidade todo o
meu corpo tremeu. Mesmo de longe eu conseguia enxergar os seu lindos olhos, ou
eles ainda estavam gravados na minha memória, na realidade e um pouco confuso
tudo o que sinto quando olho para ele, e semelhante ao que sentia quando...
Olhava para o Tony.
Eu não poderia ficar na janela por muito tempo,
principalmente olhando para outro homem, e se ele pediu para alguém da
vizinhança tomar conta de mim? Não posso dar chance para o azar. Eu desviei por
um segundo o meu olhar do seu, e ia saindo da janela, e em um gesto quase que
me implorando para que ficasse, em seguida ainda com gestos, disse que queria
falar algo comigo. Eu tomei uma decisão da qual poderia me arrepender
profundamente.
Pedi que ele me esperasse, me olhei no espelho, o meu olho
ainda estava marcado pela ultima surra que levei dele. Passei um pouco de
corretivo no olhos, e coloquei uma blusa de gola alta por causa de alguns
hematomas no pescoço.
Desci as escadas apressadamente, estava ansiosa para vê-lo
de mais perto, mesmo sendo pela janela, não tinha outra opção, eu estava
trancada dentro de casa.
O chamei e trocamos algumas palavras, ele quase me pegou
quando perguntou se o Tony tinha saído e me deixado trancada. Sinceramente!Eu
quase gritei que sim, que eu estava trancada, triste, que eu apanhava quase que
diariamente, que eu precisava de ajuda. Mas infelizmente eu não poderia fazer
isso, afinal, o que eu conhecia dele? Nada, mal sabia que se chamava Bruno, e
que tinha os olhos mais lindos, e amorosos que eu já vi na vida. Mas isso o
Tony também “tinha” e olha no que ele se tornou, quem me garante que ele não e
igual?
Quando ele foi embora prometendo que voltaria para ver se o
“Chaveiro” que eu supostamente tinha chamado teria vindo me destrancar, eu
senti um misto de expectativa com medo. Expectativa por vê-lo novamente, e medo
de o que eu falaria para ele já que não tinha chamado ninguém para me
destrancar.
A tarde passou, a noite caiu e ele não apareceu, me senti
ainda mais sozinha e esquecida por todos, a minha sina e realmente ficar aqui
presa nesta casa, sem ter para aonde ir, apanhando quase que diariamente, e
sonhando com a expectativa do Tony voltar a se ao menos 50% do que ele era
quando nos casamos.
Segura de que ele não apareceria mais, decidi não esperar.
Segui para o banheiro, tomei um banho, e antes de sair ainda enrolada no roupão
dei mais uma olhada para a janela, e vi o marido da Eleonora chegar em um
carro, acho que o mesmo no qual ele saiu pela manha, olhei bem e sim, era ele,
um sorriso espontâneo brotou nos meus lábios, mas este sorriso logo se desfez
quando o Bruno simplesmente foi embora. Abaixei a cabeça, e segui para o meu
quarto, tirei o roupão e me olhei no espelho, em nada me lembrava a Gabriella
de antes, estava mais magra apática, com olheiras, com o cabelo horrível.
Enfim, a minha vida tinha ido embora ao lado dele. Senti as lagrimas tomarem conta
do meu rosto, senti elas escorrendo pelo meu corpo e se perdendo no meu peito,
se perdendo como o meu coração se perdia a cada dia que tinha que acordar, e me
deparar com esta casa, com as suas coisas, e as lembranças de uma vida cheia de
lagrimas, e insegurança.